por Karl Lachler |
Não é fácil definir sermão expositivo em relação aos sermões tópicos ou textuais. Uma das razões disto é que as definições quase sempre tendem a limitar demais as coisas. Definições restritivas não permitem que o assunto seja expandido de forma prática; definições muito amplas não permitem uma concentração exequível. Nenhuma das duas é boa.
Uma parte da confusão entre os pregadores surge da permuta descuidada dessas duas palavras, “bíblica” e “expositiva”. Absolutamente elas não significam a mesma coisa. “Bíblica” é, por definição, alguma coisa que se relacione (mais ou menos com a Bíblia). Sermões textuais e tópicos podem se relacionar com a Bíblia sem serem expositivos, assim como maçãs se relacionam com as frutas sem serem peras. Sendo penso, um sermão textual ou tópico, pode, na verdade, se relacionar com a Bíblia em graus variados. Mas, em essência, o sermão expositivo não pode ser nada menos do que diretamente bíblico, gerado a partir do texto bíblico e projetando um assunto (tema) inerente a partir daquele texto.
Em seu livro Exposição do Novo Testamento – Do Texto ao Sermão, o Dr. Liefiel sugere que não façamos da definição nosso alvo imediato, mas que primeiro compreendamos as partes conceptuais básicas de um sermão expositivo (Liefeld 1985, 13). Isto é bom porque se concentra na essência do sermão expositivo e não apenas em nomenclaturas externas.
John R. W. Stott, em seu livro intitulado I Believe in Preaching (“Creio na Pregação”), não surge primeiro com uma definição, mas, antes, trabalha com o princípio fundamental da explanação. Explanar o conteúdo de um texto bíblico deve ser a própria vida do sermão expositivo (Stott 1982, 125). A obra de Stott enfatiza claramente o centro ontológico do sermão expositivo.
Sob este conceito central da exposição está a ideia da explanação. Seu sentido fundamental é o de aplanar alguma coisa enrugada. A exposição da passagem bíblica é caracterizada por um discurso lógico que “aplana” o texto e o torna compreensível. Assim, a explanação é uma forma clara de expressar pensamentos espirituais, de modo que os ouvintes possam aplica-los a situações práticas a vida. Desta forma, a explanação vai além de descrições prolixas de palavras e construções gramaticais (Liefeld 1985, 13).
Em íntima relação temos esta outra palavra, explicação, que traz a ideia fundamental de revelar alguma coisa. Os sermões expositivos revelam aos ouvintes as verdades que estão envolvidas pelas vestimentas culturais e teológicas. Se alguém me entrega um mapa dobrado e diz: “Este é o mapa do Brasil”, eu ouço as palavras, mas não compreendo completamente aquele pedaço de papel dobrado, até que ele seja aberto e se exponham o contorno e os detalhes do Brasil.
[...] A partir dos fatos culturais relacionados ao antigo arauto grego, temos mais ideias sobre a essência dos sermões expositivos. Para ter um cargo assim, o arauto precisava ser amigo íntimo de seu senhor, te ruma voz clara e ser digno de confiança. Nessa função o arauto fazia proclamações oficiais par ao rei e em nome dele. Em muitos exemplos de proclamação (Kerussein) do Novo Testamento, a urgência e fidelidade à mensagem revelada de Deus eram características (Mounce 1960, 12-17).
Relacionando isto com o sermão expositivo, vemos o pregador como arauto de Deus, o Rei. Obviamente ele tem de ser um amigo leal de Deus e devotar afeição à Palavra divina. Ele deve levar em seu coração a convicção clara e indelével de que sua vocação vitalícia visa proclamar os pensamentos de Deus com fidelidade e de forma prática. Em sua essência, o sermão expositivo tem uma relação ontológica com a Bíblia e tem sua melhor caixa de ressonância no caráter e nas palavras do pregador (arauto).
Assim, um sermão expositivo não é um discurso de improviso casual, em que o pregador vagueia por uma longa sequência de versículos. Acho estranho que um sermão extemporâneo e casual numa sucessão de versículos bíblicos seja chamado impensadamente de exposição bíblica. Como cristãos e pregadores informados podem continuar a acreditar nisso?
[...] O sermão expositivo extrai a estrutura e o conteúdo diretamente do parágrafo a ser pregado. As Escrituras são a fonte básica para os dois. Não existe nada daquilo de usar as Escrituras para dar apoio secundário à forma e ao conteúdo do sermão expositivo. H. Grady Davis faz uma pergunta crucial: “A Bíblia é a fonte geradora da forma e do conteúdo, e o sermão realmente diz o que o texto diz?” (Davis 1958, 47).
[...] Agora tentemos dar uma definição que se encaixe na filosofia e metodologia propostas neste manual.
O Sermão expositivo vernacular:
Um discurso bíblico derivado de um
texto vernacular independente,
a partir do qual o tema é revelado,
analisado e explicado,
através de seu contexto,
sua gramática,
e sua estrutura literária,
cujo tema é infundido pelo Espírito Santo na vida do pregador e do ouvinte.
[...] A Bíblia é o sangue vital do sermão expositivo, e a explanação, explicação e exposição são as partes conceptuais básicas e dinâmicas. O caráter do pregador é a caixa de ressonância da verdade pregada.
Karl Lachler
Extraído do livro: Prega a Palavra - passos para a pregação expositiva.
Ed. Vida Nova. p. 45-52
Publicado com permissão.
Foi missionário durante 32 anos no Brasil. Colaborou para a implantação de igrejas, entre elas a Primeira Igreja Batista de Fernandópolis, a Segunda Igreja Batista de São José do Rio Preto e foi um dos pastores fundadores da Primeira Igreja Batista de Atibaia. Também foi colaborador e conferencista na Aliança Bíblica Universitária e lecionou na Faculdade Teológica Batista de São Paulo durante 18 anos. Atualmente ele e sua esposa Margarete moram em Michigan e colaboram com sua igreja local.
Confira entrevista com Karl Lachler.
Confira também o artigo: Pregação Expositiva. por Grant R. Osborne
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