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Três razões para pregar Romanos

por Daniel Gouvea


A importância da carta de Paulo aos romanos tem se mostrado inestimável ao longo da história do cristianismo. Dizem que Crisóstomo lia a carta duas vezes por semana[1]. A leitura desta foi crucial no movimento da reforma impulsionado por Lutero. Melanchton (grande amigo e professor de grego de Lutero) para se apropriar do conteúdo de Romanos, copiou toda a carta com suas próprias mãos, pelo menos três vezes.[2] Era o livro que ele mais expunha em suas palestras[3]. Calvino, por sua vez, disse que Romanos é uma porta aberta para encontrar os mais profundos tesouros das Escrituras[4]. Foi através da leitura do comentário de Lutero - sobre Romanos - que o grande evangelista John Wesley sentiu seu coração aquecido e sua vida transformada. “Em cada geração, um comentário de Romanos se destacou como uma obra marcante! “Desde Calvino (1540), Sanday e Headlean (1895), Karl Barth (1919), Cranfield (1975) até Douglas Moo (1996), a carta de Paulo aos Romanos tem causado impacto e profunda reflexão à igreja de Jesus.


Porém, não foi apenas na vida desses grandes homens que bênçãos vieram da epístola de Romanos! A comunidade – da qual pertenço – foi também, grandemente, abençoada pela exposição dessa carta. Estamos no processo de plantação da IBL Nacional, localizada em Brasília–DF, um diversificado centro urbano. A exposição de Romanos foi uma surpreendente bênção no processo de plantação da igreja. Assim sendo, compartilho aqui alguns dos motivos pelos quais a exposição de Romanos continua a ser uma bênção para a igreja:


1. O fato de que a carta aos Romanos foi escrita para uma comunidade urbana e culturalmente tão diversa quanto o nosso mundo.


O primeiro motivo – pelo qual a exposição de Romanos continua a ser uma bênção – se deve ao fato de que essa carta foi escrita para uma comunidade urbana e culturalmente tão diversa quanto a nossa. Nos dias em que Paulo escreveu a carta aos Romanos havia, provavelmente, cerca de um milhão de pessoas habitando em Roma. Por ser a capital do império, a cidade atraía pessoas de todos os lugares do mundo conhecido, inclusive judeus. Estima-se que a população de judeus, em Roma, fosse de 40 a 50 mil habitantes.


Desses, vários estavam se tornando cristãos e, por isso, disputas entre eles surgiram a ponto de serem expulsos da cidade, em 49 d.C, pelo imperador Claúdio[5]. Com a expulsão dos judeus, a igreja em Roma – que anteriormente era constituída majoritariamente de judeus cristãos – passa, então, a ser constituída tipicamente de gentios cristãos. Anos mais tarde, com a morte de Cláudio, em 54 d.C, os judeus voltam para Roma e, certamente, encontram uma igreja com a “cara” mais gentílica que anteriormente. Em outras palavras, os judeus cristãos, que chegaram ali, encontraram uma igreja que refletia mais da realidade do mundo multifacetado greco-romano. Agora, temos, debaixo do mesmo “teto”, ou melhor, debaixo do mesmo Senhor, Judeus (com seus costumes, tradições, traumas e oposição aos costumes dos gentios) e gentios (com seu estilo de vida bem distinto dos judeus). Como mantê-los unidos? Paulo declara que a unidade, para essa comunidade tão diversa, só seria possível por meio do Evangelho! Pois, esse é o poder de Deus, tanto para judeus, quanto para gentios que creem. Em outras palavras, o equilíbrio daquela comunidade estava, justamente, no Evangelho, do qual todos – judeus e gentios – precisavam.


Nossa igreja foi extremamente abençoada ao aprender, desde seus primórdios, a necessidade de termos o evangelho no centro da vida da igreja. Toda a nossa diversidade cultural (própria de um grande centro), todas as nossas diferenças e todas as nossas práticas – como igreja – só encontrarão equilíbrio quando todos nós nos rendermos ao evangelho, e o mantivermos no centro da vida da igreja. A partir daí, experimentaremos o poder de Deus em nossa comunidade e, por conseguinte, em nossa cidade.


2. O fato de que todos são igualmente culpáveis perante Deus.


O segundo motivo – pelo qual a exposição de Romanos, ainda, é uma bênção para igreja – está no fato de que a carta ensina a verdade: que todos são igualmente culpáveis perante Deus, independentemente de classe social, opinião política ou “pedigree” religioso.


Apesar da diversidade existente na igreja em Roma, Paulo deixa claro o fato de que todos, sem exceção, tanto judeus como gentios, são igualmente culpáveis perante o Senhor. Havia uma tendência dos judeus de acreditarem que já eram justificados perante Deus, devido ao fato de serem descendentes físicos de Abraão (o grande pai da nação, a quem as promessas de Deus foram dadas). Desde o início da carta, Paulo lida com essa questão, culminando o assunto em Romanos 9-11. Dessa forma, Paulo ensina que a justificação, perante o Senhor, não era por raça (Rm 9:6) e sim por graça (Rm 9:15), não era por obras (Rm 9:11) e sim por fé (Rm 4) em Jesus (Rm 9:30–32). Em outros termos, todos precisam do evangelho – que é o poder de Deus para a salvação –, porque todos são igualmente pecadores (Rm 3:23).


A exposição de Romanos foi uma bênção em nossa comunidade, porque aprendemos que todos – em nossa cidade e comunidade – são, sem exceção, “farinha do mesmo saco”, isto é, culpáveis perante Deus! Tanto aqueles de viés mais “tradicional”, quanto os de viés mais “contemporâneo” são igualmente pecadores. E a única solução, para ambos, é a fé no Senhor Jesus (Rm 5). Isso, por si somente, produziu maior unidade entre a diversidade de nossa comunidade.


3. O fato de que a saúde da igreja e sua influência no mundo dependem da obra de Deus, através da assistência do Espírito Santo na vida dos crentes.


O terceiro motivo (embora, possam existir muitos outros) – pelo qual a exposição de Romanos continua a ser uma benção – é o fato de que em Romanos, entendemos que a saúde da igreja e sua influência no mundo dependem da obra de Deus, através da assistência do Espírito Santo na vida dos crentes.


Com judeus e gentios, unidos sob o evangelho de Jesus, um tipo inteiramente novo de comunidade nasce no mundo. A saber, uma comunidade que vive a nova vida da ressurreição (Rm 6:4–11): onde Jesus, e não o pecado é o Senhor, e cuja graça reina, e não a lei e a morte (Rm 6:15-7:24). Toda essa dinâmica só é possível pelo agir transformador, formador, paternal e amoroso de Deus, através do Espírito Santo (Rm 8). Esse, portanto, concede dons (Rm 12) e capacidades para que judeus e gentios vivam no mundo retamente e, em amor (Rm 13), unidos sob o mesmo Deus e na mesma igreja (Rm 14–15) para que, por meio da mútua cooperação dos crentes (judeus, gentios, nobres e escravos), o evangelho de Jesus alcance todo o mundo (Rm 15:22–16:25).


Nossa comunidade foi ricamente abençoada sob a exposição de Romanos! Desde então, procuramos equilibrar toda a diversidade existente em nosso meio, a partir da centralidade do evangelho. Tornamo-nos mais unidos ao reconhecer a igualdade da nossa miséria e culpa perante o Senhor. E, finalmente, tornamo-nos mais dependentes do Espírito de Deus para viver a vida cristã, além de estarmos mais integrados, no uso de nossos talentos e dons, na propagação do evangelho em nossa cidade.


Que a exposição de Romanos seja uma bênção para sua comunidade também!


Daniel Gouvêa

Daniel Gouvea é casado com Fabiana e pai de 2 filhas. É Th.M em teologia e exposição do NT e pastor da IBL Nacional em Brasília-DF. 

É ainda escritor do livro: A soberania de Deus na justificação.





Referências


[1] GODET, 1883, p. 1.

[2] SHEIBLE, 2013, P. 50

[3]GODET, 1883, p. 1.

[4] CALVIN, 1979, p. 29.

[5] GOUVÊA, 2016, p. 17.

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