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Porque você não pode entender a Bíblia sem entender as alianças


Por Thomas R. Schreiner |


“Se não entendermos as alianças, não entenderemos e não poderemos entender a Bíblia porque não entenderemos como a história se encaixa.”


As alianças são cruciais para o entendimento correto das Escrituras, como Peter Gentry e Stephen Wellum argumentaram, pois elas são a espinha dorsal do enredo da Bíblia. A Bíblia não é uma coleção aleatória de leis, princípios morais e histórias. Ela é uma história que vai a algum lugar e é a história da redenção, a história do reino de Deus. A história se desenrola e avança por meio as alianças que Deus fez com seu povo.


Se não entendermos as alianças, não entenderemos e não poderemos entender a Bíblia porque não entenderemos como a história se encaixa. A melhor maneira de ver isso é examinando rapidamente as alianças nas Escrituras.


Se não entendermos as alianças, não entenderemos e não poderemos entender a Bíblia.


Deus criou o mundo e os seres humanos, mostrando que é o governante soberano de todos. Ele criou Adão e Eva como reis-sacerdotes, como aqueles feitos à sua imagem, para governar o mundo para Deus. Eles deveriam estender o governo de Deus por toda a terra.


Como filho e filha de Deus, eles seriam confirmados na vida e na justiça se obedecessem ao Senhor, mas seriam amaldiçoados se transgredissem a ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Em outras palavras, houve bênção e maldição da aliança. Eles comeram da árvore proibida e experimentaram a maldição da aliança.


Pela graça de Deus, a história não termina aí, pois o Senhor prometeu triunfar sobre a serpente por meio da descendência da mulher (Gênesis 3:15). A regra originalmente dada a Adão e Eva seria restaurada por meio da descendência da mulher.


A aliança com Noé


Com o desenrolar da história, as terríveis consequências do pecado de Adão e Eva tornaram-se evidentes. O mal e a corrupção permearam o mundo. Na época de Noé, havia apenas oito pessoas justas restantes no mundo e a promessa de redenção por meio da descendência da mulher parecia uma memória distante.


O mundo inteiro, exceto Noé e sua descendência, foram dizimados no dilúvio. Deus fez uma aliança com Noé, prometendo que a raça humana não seria aniquilada novamente até que o plano de redenção através da descendência da mulher fosse cumprido. De certa forma, Noé era um novo Adão em uma nova terra e, portanto, a aliança da criação com Adão foi rejuvenescida. Ainda assim, a salvação não viria por meio de Noé porque, como Adão, ele pecou no jardim, e o mal fundamental no coração dos seres humanos persistia.


A aliança com Abraão


Depois de Noé, o mundo novamente caiu em pecado, com a torre de Babel como o sinal do pecado. Nessa terrível situação, Deus chamou um homem, Abraão, e fez uma aliança com ele. O Senhor prometeu a Abraão terra (Canaã), descendência (Isaque) e uma bênção que se estenderia até os confins da terra.


Abraão era como um novo Adão e Canaã seria um novo Éden onde Deus habitava com seu povo. Se os filhos de Abraão confiarem no Senhor e obedecerem a ele, as promessas serão cumpridas. Ao mesmo tempo, o Senhor prometeu em uma dramática cerimônia pactual que a promessa certamente seria cumprida (Gênesis 15). Deus prometeu que manteria sua promessa, mas o faria por meio da descendência obediente de Abraão.


A aliança com Israel


Uma aliança também foi feita com Israel depois que eles foram libertados do Egito pela graça de Deus. Israel era filho de Deus e descendente de Abraão e o meio pelo qual as bênçãos fluiriam para o mundo inteiro. Eles eram reis-sacerdotes, mediando as bênçãos e o governo de Deus no mundo. Eles viviam em Canaã, que seria como um novo Éden, um lugar onde Deus governava e habitava no meio de um povo santo.


As estipulações da aliança com Israel estão resumidas nos dez mandamentos, e o Senhor prometeu bênçãos se eles obedecessem, mas se violassem as prescrições de Deus, sofreriam as consequências. Na verdade, eles seriam até mesmo expulsos da terra e iriam para o exílio.


A aliança com Davi


A promessa de vitória sobre a serpente e sua descendência virá por meio de um filho de Abraão (Gênesis 3:15; 12:1-3), mas na aliança de Deus com Davi surgiu uma nova característica da promessa, muito embora se alguém lesse a história cuidadosamente perceberia indicações dessa promessa presentes o tempo toda nela (2 Samuel 7). A nova característica é que a vitória sobre a serpente viria por meio de um rei. O filho de Abraão que vencerá o pecado e a morte será um filho de Davi. A promessa de terras e bênçãos universais será assegurada pela dinastia de Davi.


O rei, então, era uma espécie de novo Adão em uma nova terra e, por um breve período, quase parecia que todas as promessas seriam cumpridas durante o reinado de Salomão. A aliança com Davi, no entanto, tinha elementos condicionais e incondicionais também. Se os reis transgredissem, eles enfrentariam o julgamento de Deus.


Conforme a história avança, torna-se evidente que algo estava radicalmente errado com os reis e com a nação. Na verdade, o pecado dos reis de Judá – e de Israel, foi tão significativo que Israel foi expulso da terra. Deus havia prometido que o mundo seria transformado por meio de um filho de Davi, mas a promessa estava retrocedendo! Israel e Judá foram respectivamente expulsos da terra em 722 e 586 aC.


O que estava acontecendo com a grande promessa de Deus?


A nova aliança


Israel havia bagunçado as coisas e parecia como se a promessa de triunfo sobre a serpente houvesse sido revogada, mas lembramos que a promessa em Gênesis 3:15 era incondicional e que o Senhor também garantiu que a vitória viria através de um filho de Abraão e um filho de Davi.


Ainda assim, havia um problema com a aliança feita com Israel e o câncer residia no povo: eles falharam em guardar os mandamentos de Deus e, portanto, experimentaram as maldições da aliança. O Senhor fez uma nova aliança com seu povo que cumpriu as promessas feitas a Adão, Abraão e Davi (cf. Jr 31.31-34).


A nova aliança encontra seu cumprimento em Jesus Cristo, que é o verdadeiro filho de Abraão, o verdadeiro Filho de Deus, o verdadeiro Israel, o verdadeiro Davi, o Filho do Homem e o Servo do Senhor. A promessa da nova aliança de perdão dos pecados é cumprida no próprio Jesus e assim ele derrama seu Espírito sobre seu povo para que sejam habilitados a fazer a vontade de Deus (Ezequiel 36:26-27).


Todos os que pertencem a Jesus são sua descendência: são os filhos de Abraão e membros do Israel de Deus. A promessa da terra também foi cumprida em Jesus Cristo. O primeiro lampejo da promessa está localizado na ressurreição de Jesus, que garante a ressurreição dos crentes e a nova criação que está por vir. Na nova criação o mundo inteiro é o templo de Deus e todo o universo é a nova Jerusalém onde Deus e o Cordeiro habitam (Ap 21:1-22:5).


A bênção universal, bênção para todas as nações e povos, também acontece em Jesus. Na antiga aliança o povo de Deus consistia quase exclusivamente em Israel, mas a plenitude da promessa de Deus a Abraão se tornou uma realidade e cada tribo, língua, povo e nação são abençoados em Jesus Cristo, pois confiam nele para a vida eterna.

 

Thomas R. Schreiner é o professor de interpretação do Novo Testamento e de teologia bíblica no Southern Baptist Theological Seminary, onde também atua como reitor auxiliar da School of Theology.

 

Texto original: Why you can’t understand the Bible without understanding the covenants


Tradução: Tiago Silva

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