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O que está errado com a “Plantação de Igrejas”?

Seis perigos de uma estratégia missionária | Mack Stiles

Todo cristão é favorável a plantar igrejas, certo? Como alguém poderia ser contrário a isso? Isso é bíblico: Paulo escreve “Eu plantei , Apolo regou, mas Deus deu o crescimento” ( 1 Coríntios 3:6 ).


A igreja é o instrumento escolhido por Deus para o avanço de seu Reino. Se o Senhor se demorar muito para voltar, a igreja ainda estará aqui muito depois que as nações e civilizações de hoje caíram no esquecimento. Nenhum governo existente hoje durou tanto quanto a igreja. Todo missionário que conheço diz que ama plantar igrejas.


Só para constar, eu também adoro plantar igrejas. Eu plantei igrejas nos Estados Unidos e no Oriente Médio. Algumas falharam; algumas cresceram; algumas são a maior alegria da minha vida - como a igreja que agora pastoreio em Erbil, Iraque. Não só isso, mas por sua graça, Deus me usou para iniciar um movimento que ajudou a plantar igrejas.


Portanto, não estou surpreso que uma estratégia missionária relativamente nova, chamada Movimento de Plantação de Igrejas (MPI), tenha capturado a imaginação de pessoas com mentalidade missionária ao redor do mundo. O MPI está ligado a exemplos do ministério de Jesus, é cheio de histórias de sucesso e é apresentado com a esperança de um avivamento massivo em todo o mundo. Ele se concentra em igrejas nas casas, estudo bíblico indutivo, autodescoberta, identidade étnica e uma jornada em direção a Jesus. O movimento é definido pela indigeneidade[i] radical e uma rápida reprodução de "igrejas" - entre aspas, porque "igreja" para muitos no MPI é apenas "dois ou mais estão reunidos".


A grande maioria dos missionários que desejam colocar o MPI em prática têm um desejo sincero de ver Jesus conhecido entre as nações. Mas como tenho vivido e ministrado no Oriente Médio por vinte anos e visto as estratégias missionárias irem e virem, tenho preocupações.


Pontos fortes da estratégia

Primeiro, deixe-me descrever o que eu aprecio sobre aqueles que conheço e que tentam colocar o MPI em prática.


  1. Motivação. Eles são dedicados, sacrificiais e tementes a Deus. Eles desejam aqueles que estão perdidos e sem esperança conheçam o amor, a misericórdia e o perdão de Jesus, e, de forma geral, eu gosto disso neles.

  2. Indigeneidade. Eles desafiam as formas tradicionais de igreja que são extrabíblicas. Sua reação contra práticas extrabíblicas e/ou pecaminosas da igreja ocidental pode ser um corretivo útil.

  3. Escritura. Essa é a ênfase que mais ressoa em mim. Com o passar dos anos, tenho visto pessoalmente a maioria das pessoas de grupos não alcançados virem a Jesus por meio de estudos bíblicos indutivos, geralmente estudos de livro inteiro do Evangelho de Marcos.

  4. Discipulado. Estou alarmado porque muitos missionários não sabem como discipular pessoas. Eles geralmente vêm de igrejas que não discipulam bem (ou não discipulam). Portanto, sou grato pela ênfase que o MPI dá ao discipulado. Não é de se admirar que, quando missionários com dificuldades recebem algum treinamento em MPI, eles se predem ao método. Para muitos, o MPI é a primeira ferramenta que receberam para o discipulado.


Seis fraquezas concernentes ao MPI

Juntamente com os pontos fortes do MPI, no entanto, existem vários pontos fracos que considero preocupantes. Cada um deles, de uma forma ou de outra, se relaciona com a última palavra da sigla do MPI: igreja . O MPI visa plantar igrejas, mas, em meu julgamento, a estratégia frequentemente falha quanto a estruturas e padrões bíblicos para igrejas.


1. Definições desleixadas de igreja

“Não queremos a igreja ocidental” é um refrão que ouço frequentemente dos defensores do MPI. Claro, em certo sentido eu concordo; nós não queremos uma igreja americana. Não queremos ocidentalizar as pessoas com a nossa cultura de igreja. Por outro lado, no entanto, todas as culturas são falhas e corrompidas. Então, assim como não queremos reproduzir a cultura da igreja americana, também não devemos querer produzir uma igreja que imite a cultura local, com suas cegueiras e falhas específicas. O que desejamos ver é uma cultura bíblica fundamentada em princípios bíblicos.


Nosso objetivo nunca é apagar nossas identidades étnicas e culturais, é claro. Mas, como disse um amigo missionário, desejamos tornar essas identidades “secundárias em relação à nossa nova identidade como povo de Deus”. Além disso, a expressão fiel de uma cultura bíblica irá variar de época para outra em diferentes lugares, mas todos terão o mesmo DNA básico.


Quando peço ao pessoal do MPI para definir a igreja - o objetivo final de seu movimento - muitos deles parecem estar perdidos. Muitos respondem, ironicamente, falando sobre a forma: “não um edifício, mas uma igreja doméstica; não bancos, mas sentado no chão; não um sermão, mas uma discussão bíblica. ”


E quanto à doutrina? Um não cristão pode se tornar um membro? Se estamos sendo apressados em nossas definições de plantação de igreja, como podemos evitar a eleição de jovens novos na fé como presbíteros, algo proibido em 1 Timóteo 3: 6? Francamente, o que ouço no MPI é uma estratégia de evangelismo, não uma estratégia de plantação de igrejas. Eu amo evangelismo, mas é errado chamar uma atividade de evangelismo de “igreja”.


Essa incapacidade de definir uma igreja é triste porque não é algo assim tão difícil. Em quatro frases “tweetáveis”, deixe-me tentar explicar as partes críticas e irredutíveis da igreja prescritas no Novo Testamento.


A igreja é uma reunião de crentes nascidos de novo e batizados que fazem um pacto de amor para se encontrarem regularmente sob a autoridade das Escrituras e a liderança dos presbíteros.


As igrejas realizam apenas algumas atividades críticas: elas ouvem a palavra pregada. Elas cantam e oram. Elas contribuem. Elas participam dos sacramentos do batismo e da comunhão. Elas praticam a disciplina da igreja.


A missão abrangente da igreja é a Grande Comissão: discipular todas as nações, ensinando-as a obedecer a tudo o que Cristo ordenou.


A igreja existe para adorar a Deus, para ser uma imagem visível do evangelho e, como finalidade última, para dar glória a Deus.


Para que uma reunião de crentes seja uma igreja esses elementos devem estar presentes. Algumas reuniões podem estar a caminho de se tornar uma igreja, mas ainda não são igrejas bíblicas sem esses princípios básicos fundamentais.


Eu desconheço algo mais importante para as missões modernas que estabelecer igrejas culturalmente nativas de acordo com os princípios bíblicos. Novas igrejas, com jovens recém convertidos, precisam entender esses princípios bíblicos básicos desde o início. Não devemos relevar os princípios bíblicos para igrejas novas; ao contrário, devemos ser mais rigorosos com eles por causa do que estará em jogo no futuro.


E aqui está o problema: isso leva tempo.


2. Vulnerabilidade ao erro e heresia

A segunda preocupação profunda que tenho é que, uma vez que em nome do indigenismo professores e pregadores maduros são postos de lado no modelo MPI, as comunidades podem ser suscetíveis a lobos e charlatões.


Ao longo do tempo tenho visto igrejas nativas e crentes destruídos por seitas externas e heresia interna. Ao observar esses desastres, muitas vezes pensei que, com uma liderança clara e um ensino bíblico, essas questões poderiam ter sido resolvidas facilmente.


Os perigos enfrentados por essas igrejas incluem pastores nativos que são ditatoriais e intransigentes; liderança que aceitou dinheiro de fora da igreja para uma agenda alheia à da igreja; lutas desagradáveis; forasteiros sectários e legalistas se esgueirando para dentro da comunidade; e a importação de heresias ocidentais, como o chamado evangelho da prosperidade. E isso são apenas alguns perigos.


Esses erros são trágicos, mas não surpreendentes, uma vez que uma boa parte do Novo Testamento foi escrita para combater as ameaças à novas igrejas. Mas, uma vez que o MPI exige um compromisso extremo com a liderança nativa, eles geralmente deixam esses jovens crentes abertos à destruição.


Um amigo meu, que é missionário, observou que até mesmo Paulo (um judeu) adiou uma liderança completamente nativa ao permanecer em Éfeso por três anos (Atos 20:31). Precisamos que aqueles que zelarão pela vida e doutrina da igreja tenham um ensino bíblico que seja sólido como uma rocha, independentemente de sua nacionalidade ou etnia.


3. Inclinações para o pragmatismo

O MPI pode alimentar o desejo de muitos missionários por resultados, números e histórias dramáticas. Embora esses desejos nem sempre sejam prejudiciais em si mesmos, eles podem facilmente tentar os missionários e liderança missionária a descartar os princípios bíblicos sobre a igreja e assumir modelos mundanos de crescimento. O resultado é um modismo missionário; e os campos estão repletos deles.


A afirmação dos praticantes de MPI é que eles estão rejeitando os princípios ocidentais que não funcionariam em outras culturas. Ainda assim, seu desejo de crescimento, números e efeitos rápidos muitas vezes parece um valor distintamente americano embrulhado em palavras diferentes.


4. Falta de clareza

A oração de Paulo por si mesmo era para ele pudesse ser ousado e claro com o evangelho ( Efésios 6: 19-20 ; Colossenses 4: 4 ). Mas a estratégia do MPI tem dificuldades para manter a clareza em várias questões, além da eclesiologia.


Quem é um crente genuíno, por exemplo? Se alguém diz que ama Jesus, isso significa que ele é seu seguidor? (Eu ouvi muçulmanos afirmarem que amam Jesus mais do que os cristãos.) Ou ainda, o que constitui o evangelho?


A clareza sobre a conversão bíblica no campo missionário é crucial, mas o MPI costuma ser confuso, na melhor das hipóteses.


5. Congregações etnicamente homogêneas

Os missionários que conheço dariam suas vidas para se opor ao racismo. Mas devemos ser muito cuidadosos para não valorizar alguns grupos étnicos em detrimento de outros, advogando em favor de um “crescimento homogêneo da igreja”; o que os defensores do CPM frequentemente fazem.


O que você pensaria se alguém viesse como missionário para a América e dissesse que quer estabelecer uma igreja para os brancos? Eu espero que você fique horrorizado! Não, a igreja é para todas as pessoas. Em última análise, todas as igrejas devem desejar ser igrejas internacionais (tanto quanto puderem) porque esse é o nosso objetivo final diante do trono de Deus.


Limites étnicos podem ocorrer porque grupos diferentes falam línguas diferentes, mas limitar a igreja com base apenas na própria etnia é pragmatismo antibíblico na melhor das hipóteses ou perversidade na pior hipótese. Isso ajuda no crescimento? Claro, suponho, se o objetivo for um crescimento rápido. Está certo? Não.


6. Super Contextualização

Muitos envolvidos no MPI contextualizam em nome da indigeneidade radical. Certamente, existem muitas maneiras como os missionários podem e devem contextualizar: comida, situações de vida, roupas, linguagem. Mas não podemos contextualizar o próprio evangelho.


Mas quando recortamos e colamos o evangelho, até mesmo dando diferentes interpretações para textos bíblicos claros para que possamos ajustar o evangelho à cultura, estamos desistindo da narrativa bíblica - estamos desistindo da linha da história das Escrituras que Deus cuidadosamente teceu. Desistir da narrativa bíblica é super contextualizar.


É espantoso que existam cristãos que pensem ter autoridade para adaptar o evangelho à sua situação, com base em seu próprio entendimento. Precisamos ser amorosos e atenciosos ao apresentar a mensagem do evangelho? Absolutamente. Precisamos ser sensíveis a outras culturas? Certamente. Mas o que é mais necessário nas missões modernas são pessoas que entendam o evangelho, que o apresentem com ousadia e clareza, e que saibam que Jesus promete perseguição e até mesmo dá instruções sobre como agir quando ela vier.


A contextualização exagerada do evangelho pode indicar que o missionário é quem foi convertido, ao invés das pessoas a quem ele foi enviado se converterem ao evangelho.


Dê um passo atrás

Meu pedido para quem avança a causa do MPI é que deem um passo atrás. Velocidade não é o chamado. Indigeneidade pode ser útil, mas minha experiência é que parceria, a longo prazo, é mais frutífera. Há muito que se aprender com aqueles que nos precederam na igreja ocidental. A aversão ao paternalismo nega aos líderes nativos tempo o bastante para verem a liderança cristã sendo modelada para eles por missionários. Essa negação se afasta do modelo de Paulo e Timóteo. A formação de uma teologia cuidadosa de igreja, do evangelho e da conversão bíblica são essenciais.


Estou convencido de que a proclamação do evangelho e a implantação de igrejas podem se unir de maneiras que abordem as preocupações daqueles que seguem o MPI. Nossa igreja em Erbil, Iraque , por exemplo, inclui crentes de uma variedade de culturas e idiomas. Juntos, vemos nossa responsabilidade principal como viver como uma igreja bíblica no meio de um grupo de pessoas não alcançadas. Os incrédulos nos visitam e veem os cristãos adorarem juntos, cruzando as linhas étnicas - e alguns deles vêm a Cristo dessa forma. Além de proclamar a palavra do púlpito e individualmente, praticamos discipulado individual e estudos bíblicos indutivos, todos com o objetivo de plantar mais igrejas pastoreadas por líderes nativos. Nossa igreja não é perfeita e não fingimos que é ou será, mas trabalhamos para crescer, ensinar, modelar e corrigir.


Mencionei acima que o MPI é novo - e é novo na história geral das missões. Mas no mundo dos métodos missionários modernos, o MPI (por volta de 2001) já é antigo. Já está sendo engavetado por algo mais novo. Outro amigo missionário diz: “MFD (Movimento de Fazer Discípulos) é um tipo de MPI da próxima geração, com foco no discipulado baseado na obediência e estudos bíblicos indutivos, e com menos foco na implantação de igrejas.” Mas esse novo método apenas prova o ponto de que modismos missionários vêm e vão. A proclamação clara da verdade do evangelho no contexto de igrejas bíblicas saudáveis ​​durará até o retorno de Jesus.


Mack Stiles é Pastor Senior da Erbil International Church e Autor de “Evangelism: How the Whole Church Speaks of Jesus.”



Referência. [i] indigeneidade ou indigenismo é uma visão na qual as comunidades locais devem preservar seus traços culturais locais, inclusive no que tange a definir quanto sua forma e liderança.


 

Traduzido por Carlos Felipi Massimo Faria


Texto Original: What Could Be Wrong With 'Church Planting?' Six Dangers in a Missions Strategy. In Desiring God

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