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A Doutrina da Inerrância Bíblica e a Pregação

Atualizado: 2 de ago. de 2022

Por André Oliveira |



No verão de 1978 cerca de 300 teólogos e eruditos bíblicos se reuniram na cidade de Chicago para escrever um documento que logo após seria chamado Declaração sobre a Inerrância das Escrituras [1]. O objetivo deles era defender a doutrina da inerrância bíblica dos ataques e artimanhas do liberalismo existente.


Não faltam nomes de peso como signatários desta declaração, tais como Boice, Packer, Sproul, Kantzer, Geisler, Schaeffer entre outros. O International Council on Biblical Inerrancy, ou como foi abreviada de ICBI (Concílio Internacional sobre Inerrância Bíblica), produziu outras duas importantes declarações nos anos seguintes, a Declaração de Hermenêutica Bíblica (1982) [2] e a de Aplicação Bíblica (1986) [3].


Os signatários dessa declaração se empenharam para dar continuidade ao fundamento bíblico presente na Reforma Protestante e aplicá-lo aos nossos dias. Eles declararam que a Bíblia é inerrante como fonte única da revelação divina escrita; Ela sozinha, ensina o que é necessário para salvação do homem pecador; e Ela mesma é o padrão pelo qual todo comportamento cristão dever ser avaliado, ou seja, eles se comprometeram com o distintivo formal da Reforma – Sola Scriptura. Como assevera a comissão na declaração:


"As Escrituras Sagradas, sendo a própria Palavra de Deus, escritas por homens preparados e supervisionados por Seu Espírito, possuem autoridade divina infalível em todos os assuntos que abordam; devem ser cridas, como instrução divina, em tudo o que determinam; aceitas, como penhor divino, em tudo que prometem". [4]


Assim, a declaração intentou tanto demonstrar a inerrância bíblica pela própria Escritura (2Tm 3.14-17), como também emitir um poderoso alerta para a igreja e gerações futuras quanto aos perigos advindos da rejeição da autoridade bíblica e a não submissão às reivindicações que a Palavra faz sobre si mesma (2Pe 1.21).


A autoridade das Escrituras, isto é, sua superioridade sobre a tradição da igreja, a interpretação do indivíduo, as reivindicações da cultura vigente ou de uma organização humana é proveniente de sua inerrância e suficiência. Sua segurança quanto a ausência de erros, total confiabilidade, consistência, coerência, suficiência em seus objetivos na defesa dessa verdade, é tema central para a igreja cristã. O que foi dito a respeito da doutrina da justificação no período da Reforma pode ser estendido para defesa da autoridade bíblica, de que essa é “a doutrina pela qual a igreja cai ou permanece de pé”.

A defesa que se fez a esta importante doutrina em 1978 com o ICBI, foi essencialmente de mesma importância da que foi feita em 1517, quando o reformador Martinho Lutero fixou suas 95 teses na porta do castelo de Wittenberg. Lutero testemunhou a perda da centralidade das Escrituras Sagradas bem como sua autoridade no seio da igreja, estando esta corrompida com abusos, imoralidades e negociações da fé bíblica da parte de homens ímpios, a semelhança do retrato que Judas descreve em sua epistola: “sonhadores alucinados, rochas submersas e ímpios” (Jd 8-12). Esses falsos mestres vivem para estabelecer artimanhas a fim de remover o alicerce da autoridade e centralidade das Escrituras na vida da igreja. Eles buscam subtrair as Escrituras de nós como suprema regra de fé e prática e, assim, tal como no período da reforma houve um brado por retorno à Palavra novamente ocorreu na ocasião que o ICBI legou as declarações na defesa das Escrituras. Não existe nenhuma dúvida que essa batalha se estende em nossos dias, como Peter Jensen, nos informa:


"Uma sociedade inclinada ao inferno em desafio a Deus não quer que ninguém declare as palavras de Deus. Em vez de ouvir a mensagem, ela ridicularizará a atividade e matará os mensageiros. Parte dessa resistência espiritual à pregação hoje é a cutelaria intelectual da sociedade ocidental moderna". [5]


Portanto, a fé bíblica ou convicção cristã reformada urge a defesa da bandeira que foi levantada com maestria no passado pelos reformadores: Somente as Escrituras (Sola Scriptura), isto é, as Escrituras como norma objetiva e final e o Toda Escritura (Tota Scriptura), isto é, submissão de nossa pregação e ensino ao ditame final do cânon bíblico. Assim, tanto os distintivos formais da Reforma (5 Solas) bem como a Declaração sobre a Inerrância de Chicago são marcos de firmeza e comprometimento com as Escrituras.


Se estas convicções não fizerem parte do ministério pastoral e não houver um compromisso profundo com uma hermenêutica histórico-gramatical, o que sobrará será o abuso, relativização, subjetividade e adulteração das Escrituras. A pregação bíblica estará ferida mortalmente e fatalmente irá depor contra o compromisso que está legado a igreja cristã de defender a centralidade e autoridade da Palavra de Deus. Timothy Ward, nos lembra que “no decorrer da história cristã, a visão amplamente predominante em relação à Bíblia é que ela é a Palavra viva e ativa de Deus. Dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus é dizer, que ‘aquilo que a Bíblia diz Deus diz”. [6]


Veja uma lista de 10 perigos que os biblistas Luiz Sayão, Russel Shedd e Itamir Neves, listaram quando há negligência no reconhecimento de que a Palavra de Deus é inerrante e autoritativa: [7]


1. Subjetividade;

2. Ensino condicionado à mentalidade humana;

3. Pregações mais agradáveis que deixam de lado os desígnios de Deus;

4. Falsas aplicações por falta de interpretação, conhecimento bíblico e pressupostos de uma hermenêutica histórico-gramatical e literal;

5. Destruição da autoridade bíblica;

6. Promoção de teologia liberal e relativização das verdades bíblicas;

7. Religiosidade sincrética e uma postura de práticas não cristãs;

8. Antropocentrismo que promove o bem-estar e satisfação do auditório;

9. Retorno ao galacionismo ou ênfases judaizantes;

10. A falência do púlpito e a adequação à sociedade pós-moderna.


Afirmamos, portanto, que nossas convicções estão cativas ao fato de que a Bíblia é a Palavra de Deus e, por isso, o centro da vida, fé e prática do povo de Deus. Afirmamos que veracidade e singularidade das Escrituras é o que diferencia a fé cristã de qualquer outra religião. Assim, confessamos as Escrituras como o baluarte que orienta as convicções hermenêuticas necessárias para ser encontrado fiel como ministro de Deus.


No cerne de nossas convicções se encontra o princípio que sustenta tudo o que fazemos, o Permanecer na linha das Escrituras, que reconhece que a Bíblia é inspirada e a infalível suprema voz de Deus que conduz a Sua igreja. Sendo assim, todos os princípios defendidos e ensinados pela missão Pregue a Palavra derivam e estão indissociavelmente ligados a autoridade das Escrituras.

Negamos qualquer abordagem ou ensino que intente negar, subtrair, alterar ou solapar a autoridade das Escrituras e que culmine na retirada de sua centralidade da vida da igreja e ministério da Palavra. Desta forma, repudiamos toda e qualquer tentativa de líderes, igrejas, denominações, seminários, indivíduos ou organizações que por meio de ataques à centralidade das Escrituras e sua inerrância, busquem desmerecer, revisionar ou diminuir seu escopo autoritativo, com vista à adequação cultural ou instrumentalização ideológica de qualquer matiz e, portanto, termine negando qualquer doutrina bíblica ensinada e defendida pelas Escrituras.

 

André Carvalho de Oliveira é pastor no presbitério da Primeira Igreja Batista em Atibaia, Diretor Executivo da missão Pregue a Palavra, mestre pelo programa MDiv da EPPIBA e doutorando pelo programa DMin no CPAJ. Ele é casado com Simone e pai de Isabela e Helena.



Notas

[1] Declaração de Chicago sobre a Inerrância das Escrituras: Acesso em 27/10/2020; disponível em: http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_chicago.htm


[2] Declaração de Chicago sobre a Hermenêutica Bíblica: acesso em 27/10/2020: disponível em: http://hermeneuticabiblical.blogspot.com/2015/09/declaracao-de-chicago-sobre.html


[3] Declaração de Chicago sobre Aplicação Bíblica: acesso em 27/10/2020: disponível em: https://www.alliancenet.org/the-chicago-statement-on-biblical-application


[4] ICBI, Declaração de Chicago sobre a Inerrância das Escrituras.


[5] JENSEN, Peter. A Revelação de Deus. São Paulo, Cultura Cristã. 2007


[6] WARD, Timothy. Teologia da Revelação. São Paulo, Edições Vida Nova. 2017


[7] SAYÃO, Luiz; SHEDD, Russel; NEVES, Itamir. Congresso, Raízes da nossa Fé, Sola Scriptura. Goiânia, 2009. Apostila entregue aos participantes.


[8] BOICE, James Montgomery Boice. O Alicerce da autoridade Bíblica. Vida Nova, 1982



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