por Nelson Galvão |
O ministério dele era promissor! Começou muito bem. As pessoas viajavam horas para ser instruídas pela Palavra de Deus. A multidão era crescente. O movimento que surgiu em torno de sua pregação não era fabricado, era genuíno, sem as amarras da religião institucional. Até mesmo gente improvável era convertida mediante a confrontação corajosa da Palavra. Porém... terminou mal. Sozinho, sem amigos, sem as multidões que por várias ocasiões disputavam lugares para ouvi-lo. Que pena!
Por que terminou assim? Ele foi inflexível. Poderia ter dialogado mais, ter mais “jogo de cintura”. Não precisava concordar, mas poderia ter guardado para si suas próprias opiniões, ser mais tolerante!
Talvez essa seja a avaliação do ministério de João Batista por parte de algumas pessoas influenciadas pela forma de pensar contemporânea. Para estes, o ministério de sucesso é aquele que é “relevante” para a comunidade que está inserido e numericamente crescente, especialmente em grandes centros econômicos/urbanos. É aquele que é laureado pelas lideranças civis locais, disputado pelas grandes editoras, onipresente nos púlpitos dos Congressos e, especialmente, jamais toca em temas polêmicos, ou tidos como tabus, afinal precisa de trânsito entre os diversos segmentos!
Entretanto, essa não foi a avaliação que Jesus fez do ministério de João Batista (Mt 11.7-19). Jesus disse que ele era um profeta. Mais, o profeta que havia sido profetizado no Antigo Testamento (Ml 3.1). Disse também que o Batista, até a ocasião do advento do Reino, era o maior entre os nascidos de mulher. Depois ainda afirmou que João era aquele que veio conforme a profecia a respeito de Elias (Mt 11.14; c.f Ml 4.5). Incrível! A avaliação que Jesus fez a respeito de João Batista foi diametralmente contrária à muitas avaliações ministeriais feitas em nossos dias. Por que? O ponto é: João Batista cumpriu o que Deus o havia incumbido para fazer.
Aqui está a grande questão. O sucesso/fracasso no ministério pastoral não pode ser medido pelos padrões modernos de avaliação. Estes são influenciados pela mentalidade de mercado que pensa em termos de metas, orçamentos, estratégias, tendências e, isso, infelizmente, na atuação de muitas igrejas.
O sucesso/fracasso no ministério pastoral deve ser medido por aquilo pelo qual ele foi chamado, pregar a Palavra com fidelidade (2 Tm 4.1-5). É para a fidelidade que aponta o interessante comentário de Erik Raymond:
“Aqui está a realidade: um pastor comum provavelmente não será estimado em uma sociedade que mede o sucesso em termos de tamanho da igreja, vendas de livros e influência nas mídias sociais. No entanto, a percepção bíblica do sucesso está ligada à fidelidade do pastor.”[1]
É curiosa a auto-avaliação que Paulo fez de seu próprio ministério aos Efésios (At 20.17-38), que durou três anos. Paulo diz que durante esse tempo serviu ao Senhor. Como teria sido esse serviço? Ele explica mais à frente. Acompanhe os verbos. Paulo: anunciou (v. 20 e 27), ensinou (v.20), pregou (v.25) e aconselhou (v. 31). É exatamente isso que ele orienta o pastor Timóteo a fazer: “Prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e exorta com toda paciência e ensino”.
Meu querido colega, quero encorajá-lo a permanecer firme no cumprimento da missão para a qual o Senhor o chamou. Por favor, rejeite a pressão da mentalidade de mercado que nos faz pensar que é fracasso ministerial atuar por anos em uma igreja numericamente e economicamente pequena, nos subúrbios, ou interior, sem holofotes dos Congressos, e assédio das mídias. Permaneça fiel às convicções bíblicas, mesmo que isso não lhe dê trânsito entre os figurões denominacionais. O verdadeiro sucesso ministerial é avaliado por aquele que há de julgar os vivos e mortos na manifestação de Sua vinda e Reino (2 Tm 4.1).
*Nelson Galvão
Nelson é casado com Simone desde 1997 e eles têm um filho.
Atua como diretor pedagógico do ministério Pregue a Palavra, como coordenador dos grupos do Pregue a Palavra de Cuba e Moçambique e como professor de História da Igreja, da Escola de Pastores PIBA.
Ele é formado em História e Teologia, pós-graduado em Administração Escolar e mestre em Educação (PUC-SP). Atualmente cursa o programa de mestrado em Teologia do Novo Testamento, no Seminário Bíblico Palavra da Vida- Atibaia, SP.
Referências
[1] Erik Raymond, in Michal Horton. Ed. Fiel. pos. 247.
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