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Foto do escritorEquipe Pregue a Palavra

OUÇA! COMO OUVIR SERMÕES RUINS

por João P. Lima|


É relativamente fácil classificar algo como ruim. Um filme pode ser ruim. Uma música pode ser ruim. Uma comida pode ser ruim. Depende do gosto de cada um. Mas e quando falamos sobre uma pregação? Será que podemos dizer o mesmo? O que faz uma pregação ser ruim?


Nós sabemos como é importante para o pregador ouvir sermões e como ele deve ouvir a estes sermões (veja aqui). Na primeira parte aprendemos dicas práticas, mesmo algumas sendo bem óbvias, mas extremamente importantes para que o nosso falar no púlpito seja também acompanhado primeiramente por ouvir a Palavra de Deus. Esse ouvir pode acontecer enquanto nos debruçamos no texto que vamos pregar ou porque ouvimos alguém pregar. Mas como tudo na vida, nada é perfeito. Vivemos no mundo real, cheio de coisas boas e ruins. E existem sermões “ruins”. Vamos admitir que é extremamente difícil usar um adjetivo tão pesado para classificar um sermão. Mas uma coisa é certa, nós não vivemos em um mundo de fantasia onde tudo é perfeito e bonito. O mundo é real, as pessoas são reais e a maioria de nós já ouviu em algum momento uma mensagem que nos levou a pensar – “esse não é um bom sermão!”.


Onde quero chegar? Nem sempre ouvimos bons sermões, isso é fato. Entretanto, como podemos definir o que é um bom sermão e o que não é? Na subcultura evangélica existem vários tipos de avaliações do que é um bom sermão ou o que não é tão bom assim. Alguns pensam que um bom sermão é aquele que é feito na altura máxima do volume que um pregador pode atingir com a sua voz. O pensamento é que quanto mais o pregador grita, melhor ele é. Outros observam muito a forma como alguém fala – eloquente, bom orador, contador de história, inteligente, que sabe tudo e mais um pouco e que faz rir ou faz chorar – ou seja, o que mais importa não é o que se ouve, mas como se ouve (“contanto que eu dê boas risadas ou chore de emoção; pronto, este é um bom sermão”). Outros pensam que um bom sermão é aquele sem teologia, que “fale apenas de Jesus” (você já deve ter ouvido algo do tipo). Isso é fato, toda pregação precisa falar de Jesus; mas como se faz isso sem teologia? Principalmente, como se faz isso sem uma boa teologia bíblica? A desvinculação com a teologia para sustentar um estereótipo piedoso e espiritual é completamente vazio de essência. Na verdade, muitos que dizem, “você precisa pregar menos teologia e mais Jesus”, acabam não pregando sobre Jesus, pois eles se prendem a experiências e em seu próprio status de piedade para fundamentar a mensagem que está sendo pregada ao invés de fazê-lo naquilo em que sustentam – “falar mais sobre Jesus”.


Para entendermos, vamos voltar ao que Christopher Ash diz no seu livro Listen Up! A pratical guide to listening to sermons (Ouça! Um guia prático para ouvir sermões), agora não com um olhar nas práticas para se ouvir um sermão, e sim sobre o que é um sermão ruim e como ouvi-lo. E a primeira coisa que precisa ficar claro é – o que caracteriza um sermão como ruim? Vamos sair dessa tal “subcultura evangélica” e pensar no que realmente transforma aquilo que pregamos ou aquilo que ouvimos em um sermão ruim. Segundo Christopher Ash há três tipos de sermões ruins, e a maneira como devemos ouvi-los depende do tipo de sermão. Existe o sermão maçante ou enfadonho; aquele que é biblicamente inadequado e o herético. Vamos ver brevemente cada um deles.


1.O SERMÃO MAÇANTE


Você deve conhecer o texto de Atos 20.7-12, onde Paulo está pregando em Trôade. Não sabemos o estilo de sermão que Paulo estava pregando, mas todo mundo sabe que um jovem chamado Êutico, que estava ouvindo, caiu da janela. E o fato de um jovem ter caído da janela não mudou em nada o que Paulo tinha a dizer. Todo mundo ficou alvoroçado no momento, mas depois que Paulo diz que o rapaz estava vivo, eles voltam para onde estavam, e diz o texto no v.11 – “Paulo partiu o pão e comeu. E lhes falou ainda muito tempo até o amanhecer”. Será que o sermão de Paulo foi realmente maçante? Ou o jovem Êutico só estava com sono?


Um sermão maçante pode ser aquele que deixa a desejar em seu estilo ou apresentação. E isso significa que pode ser um sermão caótico, não estruturado e difícil de entender e seguir. Pode ser também muito denso e difícil de ser digerido pela maioria das pessoas, por causa de frases muito longas e complexas. Pode até mesmo não mostrar nenhuma aplicação para as nossas vidas hoje, ou seja, muita informação, mas pouco significado.


Como ouvir um sermão maçante? Imagine que este sermão “entediante” seja bíblico, pregado por alguém piedoso e que tenha se dedicado no preparo e na oração. Nosso papel é nos esforçar em oração para ouvi-lo e se o pregador for alguém de coração aberto, podemos encoraja-lo para que algumas mudanças possam acontecer. Mas acima de tudo, devemos erguer nossos ouvidos e coração para a mensagem, orando pela ajuda de Deus para ouvir com atenção e receber a Palavra. Christopher Ash aconselha o seguinte – peça a Deus para que alguma parte do sermão fique para ser transformado em nós para o arrependimento e fé. Tente tomar nota com o objetivo de escrever um verso ou verdade que você possa levar consigo. Tente não ficar lamentando as inadequações do pregador, mas procure compartilhar verdades bíblicas que você aprendeu e orando a Deus para ajuda-lo a colocar estas verdades em prática.


2.O SERMÃO BIBLICAMENTE INADEQUADO


Agora imagine um sermão maravilhosamente apresentado, bem divido, ilustrado e aplicado. Pense neste sermão como algo interessante, fácil de entender e claro. Mas quanto mais você ouve mais você se pergunta se o pregador sabe realmente o que está dizendo a partir da Bíblia. Apesar de muito bem apresentado, você continua a se perguntar – “de onde ele tirou isso? Isso realmente está no texto?”. O sermão parece que tira verdades de todos os lugares, menos da Bíblia. O pregador pode estar omitindo partes importantes do texto para se concentrar mais nas coisas que ele quer dizer do que naquilo que a Bíblia quer dizer. Você acaba percebendo que o pregador não está pregando a partir da Bíblia, mas à parte dela.


A primeira atitude natural de toda pessoa é ter um espírito crítico. E é exatamente deste sentimento que devemos fugir. Isso pode ser um perigo quando nosso grande alvo ao ouvir um sermão é apenas procurar defeitos.


O segundo perigo que deve ser evitado nesse tipo de sermão é a ingenuidade. Se de um lado não podemos ser apenas um “caçador de defeitos”, do outro lado não podemos ser bobos ou imaturos biblicamente, o que seria acreditar em tudo que ouvimos. O pensamento do qual devemos fugir é – “não importa o que o pregador diga, contato que ele fale bem e me faça rir ou me emocionar, o resto não me importa”.


A solução neste caso é ficar engajado no texto no qual o pregador está falando. A melhor maneira é nos inspirarmos nos crentes de Beréia que examinavam nas Escrituras para saber se o que pregador está dizendo é o que a Bíblia diz (Atos 17.11). Tenha foco nas partes em que o pregador está sendo fiel ao texto e ore para que Deus aplique estas partes da pregação em seu coração.


3.O SERMÃO HERÉTICO


Até agora recebemos apenas encorajamento para ouvir, seja com respeito ao sermão maçante ou o sermão biblicamente inadequado. Mas, e o sermão herético? Será que podemos encontrar algum valor nele?


Segundo Christopher Ash, existe uma definição antiga de heresia que sugere três coisas. (i) Primeiro, a heresia é um erro em algo central da fé e não em algo periférico. (ii) Segundo, uma pessoa não é herege se dizer algo errado por engano e depois ter a oportunidade de corrigir o erro. (iii) Terceiro, é herege aquele que ativamente busca ensinar o erro na igreja.


Então o que devemos ficar atentos é ao tipo de sermão herético – dentro destes três tipos. Por exemplo, uma opinião particular não é heresia; um cristão que erra ao dizer alguma coisa não é heresia. Uma pessoa que acredita em alguma coisa diferente de outra pessoa não é heresia. O herege não é apenas um falso cristão, mas também um falso mestre. Este é o cuidado que devemos ter.


Aqui vai a dica! Se o sermão herético for do primeiro ou segundo tipo o que devemos fazer é, de modo educado e respeitoso, buscar encorajar o pregador afim de que ele seja convencido a mudar aquele determinado pensamento que não está em conformidade com a Palavra; ou para que estude mais profundamente o texto para que a Palavra mude o seu coração.


Mas e se o sermão herético for do terceiro tipo? O que fazer? Christopher Ash é categórico – “pare de ouvir”. Se o pregador está persuadindo a igreja a incorrer em um erro grave e central à fé, pare de ouvi-lo; essa é a melhor atitude. Não importa se a igreja é grande, moderna e tenha um pregador contemporâneo, que fale muito bem e que seja cativante e simpático, mas não prega a Palavra. A melhor coisa a se fazer é não ouvir. Porque não temos que procurar igrejas que tenha apenas programas e pregação de entretenimento; não. Devemos procurar igrejas fiéis à Palavra e nada mais.


De tudo que aprendemos, uma coisa é certa, fique engajado no texto. Pense nas verdades que poderiam ser anunciadas a partir do texto bíblico e peça ao Senhor para que as aplique em seu coração. Busque pregadores que sejam fiéis à Palavra de Deus e concentre-se, em oração, naquilo que Deus quer falar através da Palavra. Pois acima de tudo, nunca podemos nos esquecer do que Deus disse – “Este é o meu Filho amado; a ele ouvi” (Marcos 9.7).


João P. Lima


Extraído e adaptado do livro Listen up! A pratical guide to listening to sermons; ©Christopher Ash. The Good Book Company, 2009.



João P. Lima. Bacharel em teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Denoel Nicodemos Eller. Aluno do Pregue a Palavra/BH.

Pastor da Igreja Presbiteriana Simonton - Conselheiro Pena - MG.





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